quinta-feira, 26 de maio de 2011

O estoque do desperdício

Por: Armando Marsarioli Filho
 O que muito impressiona nesse “Brasil de Meu Deus” é o desperdício que vemos em certos departamentos, num período de colapso dos países economicamente fortes, em que deveríamos explorar, ao máximo, os recursos e as oportunidades para, de uma vez por todas, nos consolidarmos nesse ringue mercadológico em que pelejamos.
Enquanto importantes competidores estão nocauteados em pé, atuamos de forma irresponsável, consumindo recursos imprescindíveis para a consolidação da nossa perenidade. Gastos e desperdícios invisíveis que poderiam prontamente subsidiar o salto, tão necessário, para a evolução tecnológica do setor da manutenção. Lesões gerenciais que afetarão o provisionamento de recursos e que, inevitavelmente, inibirão a nossa performance para nos tornarmos ícones de competitividade nessa arena global.
A nossa cultura de estoque de peças para reposição, utilizadas pela manutenção de máquinas, equipamentos, veículos etc., é a evidência prática do pecado do desperdício e o exemplo vivo de que o diabo realmente existe.
De forma geral, as empresas concordam que possuem, em estoque de peças sobressalentes, algo em torno de 10% a 20% do custo da manutenção – acreditem, há empresas em que esse custo chega a 40%. Estima-se, com isso, que temos no Brasil cerca de R$ 15 bilhões em estoque de peças para manutenção, armazenados nas empresas de todo tipo de segmento (industrial, automotivo, agrícola etc.), em todo o território brasileiro. Logicamente, que nesta cifra não estão contempladas as peças estocadas nas empresas de distribuição, quais ainda não foram vendidas para o usuário final.
Um custo desnecessário. Desperdício gerado pela falta de planejamento dos setores de manutenção.
Como se isso não bastasse, trazemos do passado a cultura de pensar que, pelo fato de possuirmos peças de reposição estocadas em nossos armazéns, temos disponibilidade desses itens para qualquer emergência que possa surgir.
Ledo engano!
Para que esses componentes sejam bem aproveitados quando necessária a sua montagem, temos que mantê-los “vivos” durante o período em que estão estocados, ou seja, são produtos que precisam de procedimentos que os mantenham utilizáveis, tais como: para motores elétricos deve-se, periodicamente, dar um quarto de volta em seu eixo para evitar que o peso do rotor sobrecarregue e danifique os rolamentos. No caso de rolamentos, não se pode armazená-los em locais muito quentes, onde haja trepidações, além do que, é necessário, de tempos em tempos, mudar sua posição de armazenagem. Correias têm posição correta para estocagem, que devem ser inspecionadas periodicamente. Adesivos ou outros produtos químicos possuem prazo de validade que devem ser observados de forma metódica etc., etc. A manutenção e a limpeza das estantes devem ser realizadas, sistematicamente, para evitar poeira e outros tipos de sujeiras que possam comprometer a vida útil desse tipo de investimento. É dinheiro parado, em forma de peças, das quais temos de tirar o melhor proveito e que, sem dúvida, vão influenciar no retorno dos investimentos dos ativos.
Tudo isso para dizer que poucas são as empresas que possuem um plano de procedimentos para manter a vida desses produtos durante o tempo de estocagem, o que nos tem levado a deparar com situações em que 60% a 70% das peças armazenadas estão impróprias para utilização. Ou seja, o que foi um gasto para conservação dos ativos se transformou em sucata, pois aquilo que foi investido em disponibilidade, resultou em componentes inadequados para o uso, que já estão com sua vida útil comprometida antes mesmo de serem montados e que, inevitavelmente, sofrerão algum tipo de falha nos primeiros períodos de operação, condenando tal equipamento ou veículo a voltar, em breve, para as bancadas da manutenção.
Outra evidência da síndrome da deficiência da gestão de estoques para a manutenção são os procedimentos falhos quais classificam nomes diferentes para os mesmos itens, números diferentes para as mesmas denominações, fazendo com que a mesma peça tenha nomes diferentes ou números de referência distintos. Isso faz com que se compremos produtos que não são necessários e os que são necessários não são comprados. E com isso, outra cifra alarmante reside no fato de que, apesar do alto valor estocado, mais de 80% do que é necessário para as atividades diárias da manutenção é adquirido como compra urgente.
Enfim, alguém tem de “botar a boca no trombone”.
Os responsáveis pelo setor não podem continuar enfiando a cabeça num buraco esperando, confiantes, que o problema vai se resolver por si só.
É verdade que, no Brasil, em muitas empresas, ainda a manutenção é considerada “um mal necessário” pela alta direção. Porém é preciso demonstrar nossa competência numericamente. Precisamos mais do que tecnologia e formação técnica. O profissional brasileiro precisa de mais atitude empreendedora, atitude de liderança, atitude de gestão, atitude, atitude, atitude...
E para isso é necessário ter iniciativa e, ao longo dessa tão necessária revolução comportamental, vamos perceber que para exercitar iniciativa, algumas vezes é melhor pedir desculpas do que pedir permissão.
Não é o nosso conhecimento que define o que somos; são as nossas atitudes.
Boa competição para todos!

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